Hortencia Langa
A música moçambicana poderá dar um salto qualitativo nos próximos cinco a seis anos, se o esforço do governo de impulsionar e massificar o conhecimento científico na área musical for acompanhado pelo melhoramento das condições de trabalho dos artistas.
Segundo o músico Hortêncio Langa, os artistas devem preocupar-se em enquadrar a música que fazem num contexto novo que espelha a sociedade moçambicana de hoje. Trabalhar na música, de acordo com Hortêncio Langa, exige uma constante busca de novas abordagens das várias temáticas que fazem a dinâmica social.
Numa entrevista concedida ao ECANOTÍCIAS, aquele artista falou da música que se fazia no passado, tendo destacado que, na década de 70, por exemplo, os jovens já tinham a tendência de imitar seus ídolos para fazerem suas criações.
“Naquela altura havia, entre os jovens, a tendência de interpretar o texto e ritmos musicais que estavam na moda, principalmente as músicas internacionais. Íamos buscar trabalhos de compositores que eram nossos ídolos. Isso ainda hoje se verifica mas o que acontecia é que a inclinação para música internacional era bem mais forte entre a juventude urbana. No meu caso, em particular, na época não foi muito difícil entrar para esta área pois já vinha tocando com meus amigos”, conta Hortêncio Langa.
Ainda de acordo com a fonte, depois da fase de imitação, chegava o momento em que o artista tinha que começar a produzir os seus próprios ritmos e temas que dissessem respeito ao nosso país.
Em relação à qualidade, ele conta que havia uma certa triagem daqueles que queriam gravar, uma espécie de crítica.
“Nessa época não tínhamos muitas oportunidades para gravar, mas o conteúdo das músicas tinha uma qualidade invejável”, disse.
Sobre a avaliação que faz da música moçambicana de ontem e de hoje, o nosso interlocutor disse que houve uma evolução, sobretudo em consequência da grande melhoria que houve do ponto de vista técnico.
“Os tempos mudam e as condições técnicas e de trabalho também, o que certamente influencia o produto final. Não se pode dizer que a música daquele tempo era má ou que era de péssima qualidade em relação a de agora. O ponto é que hoje as condições de trabalho são outras. O som melhorou, agora temos as tecnologias de informação e comunicação, temos várias estações televisivas que criam espaço de divulgação da música e da própria imagem do artista”, afirmou.
Relativamente ao desaparecimento de alguns músicos da sua geração, Langa explicou que em alguns casos isso deve-se a opções pessoais pois, segundo ele, “não é muito fácil viver da música. É preciso muito esforço, muito sacrifício. É preciso adoptar se uma maneira de ser e estar na sociedade. Acredito que houve músicos que adoptaram outras profissões, talvez mais seguras ou mais cómodas, com direito a reforma, ao invés de seguir somente a música. Na música é preciso trabalhar muito para poder ganhar uma estabilidade social”, sublinhou.
Para ajudar na divulgação da música moçambicana, Hortêncio Langa sugere que se abram espaços para o público e o músico se encontrarem, centros onde as pessoas possam fazer as suas apresentações públicas.
“A outra área é a de gravação do disco. É preciso que haja estúdios de gravação, editoras que façam todo o trabalho de produção do material discográfico, mas isto requer infraestruturas. Não podemos deixar de lado as empresas que vão fazer marketing do próprio músico e os jornalistas culturais que possam falar do artista enquanto indivíduo, enquanto pessoa que exerce a profissão do músico”, acrescentou.
Um dos grandes ganhos que a música moçambicana está a ter, na opinião de Hortêncio Langa, é o apoio que o governo vem prestando às iniciativas de massificação do conhecimento científico na área da música, o que se reflecte na abertura de cursos de música em cada vez mais estabelecimentos de ensino de nível médio e superior.
Hortêncio Langa